Em feito raro, biólogos fotografam três codornas-carapés na Serra da Canastra
Espécie endêmica do Cerrado e ameaçada de extinção carece de registros fotográficos e comportamentais. Registro foi feito no final de setembro. Em feito raro, biólogos fotografam três codornas-carapés na Serra da Canastra Foi durante uma das campanhas de campo do projeto de pesquisa “Onde está o Bacurau?”, que tem como objetivo encontrar novas populações do bacurau-de-rabo-branco (Hydropsalis candicans) na região do Triângulo Mineiro e do Alto Paranaíba, que três biólogos tiveram uma grata surpresa: filmar e fotografar três indivíduos de codorna-carapé (Taoniscus nanus). O feito é considerado raro já que a espécie vive escondida em meio à vegetação e possui pouquíssimos registros disponíveis na internet. O encontro aconteceu na área do Parque Nacional da Serra da Canastra, em São Roque de Minas (MG). “É como se tivéssemos ganhado na loteria. Vimos três indivíduos na mesma noite e em menos de uma hora. Foi demais”, conta em êxtase o biólogo e ambientalista Gustavo Malacco. Ele lembra todos os detalhes daquela noite de expedição em 20 de setembro. “Estávamos em uma área de transição daquele campo limpo mais seco e pedregoso para os campos de murundus, uma vegetação típica do cerrado que consiste em uma área plana, inundável em períodos de chuva e com vários microrrelevos ou morrotes de terra cobertos por vegetação lenhosa”, explica. Espécie endêmica do Cerrado e ameaçada de extinção, codorna-carapé é registra na Serra da Canastra Vitor Tolentino Malacco estava acompanhado do também biólogo Vitor Tolentino e do estudante de biologia Diego Gomes. “Nós costumamos nos separar para tentar ampliar a área de distribuição do Bacurau e sempre combinamos um ponto de encontro. Eu voltei mais rápido e os dois ficaram para trás. Quando eles chegaram já vieram falando ‘acabamos de filmar e fotografar dois indivíduos de Taoniscus’. Eu fiquei em choque. Já logo brinquei com o Diego que é estagiário e está iniciando a carreira. Falei que ele era muito sortudo. Eu fiquei doido, imagina que azar de não ter ido com eles, pensei comigo ‘me ferrei’. Quando eu ia ter a oportunidade de ver esse bicho?”, indaga o biólogo. Apesar da frustração inicial, Malacco foi premiado quase no fim da atividade de campo. Ainda na mesma área de transição, ele ouviu o som do que parecia ser uma codorna-carapé e logo depois conseguiu avistar o voo. “Falei ‘é muita sorte’, não é possível. Fui seguindo os voos, o indivíduo fez uns três ou quatro voos e parou no chão. Eu fiquei acompanhando no chão, parecia um ratinho, andava bem rápido. Foi um encontro muito feliz pra gente”, lembra. A espécie possui hábitos terrícolas e busca refúgios em buracos ou tocas de outros animais como o roedor preá Diego Gomes Privilégio Para Diego Gomes, estudante do último ano do curso de biologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e estagiário do projeto de pesquisa “Onde está o Bacurau?”, se ele pudesse resumir o encontro em uma só palavra ela seria privilégio. “Eu já tinha conhecimento do status de conservação da codorna-carapé e sabia o quão raramente a espécie havia sido fotografada. Mas confesso que, naquele momento, não percebi o quão especial era a minha conquista. Foi somente depois de uma conversa com o Gustavo Malacco, que me contou que aquele havia sido a primeira vez que avistou essa ave após mais de 20 anos de carreira que eu compreendi o quão privilegiado fui por registrar três indivíduos em uma única noite, logo no início da minha carreira”, diz. Além de se especializar na área da ornitologia na universidade, Gomes levou seu interesse pelas aves para fora do universo acadêmico, transformando a observação de aves também em um hobby. Em seu perfil no Wikiaves, já são mais de 500 espécies fotografadas. “Todo observador ou ornitólogo ama registrar uma nova espécie em seu caderno ou em plataformas como Wikiaves ou eBird. É como se fosse um novo Pokémon para a coleção”, relata o estudante. “É possível que eu nunca mais tenha a oportunidade de ver essa espécie, uma vez que, além de ser uma ave difícil de avistar, ela enfrenta uma grande ameaça devido à pressão que o bioma Cerrado sofre atualmente. No entanto, levarei eternamente comigo a sensação incrível de ter tido esse privilégio”, completa o estudante. Sua área de ocorrência abrange os estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, São Paulo e Distrito Federal Diego Gomes A espécie Segundo o Wikiaves, a codorna-carapé é uma espécie de ave da família dos tinamídeos e monotípica no gênero Taoniscus. É o menor representante de sua família, medindo entre 14 e 18 centímetros e pesando entre 43 e 46 gramas. O termo “carapé” vem do tupi-guarani e significa anão. Também chamada de codorna-buraqueira, perdizinha, inhambuí, codorninha, carapé, inhambu-carapé e inhambu-nanico, a codorna-carapé apresenta tonalidades diferentes em sua plumagem que vão do ocre-rosado ao ocre-acinzentado, coloração aproximada a das codornas (Nothura) e das perdizes (Rhynchotus). Os filhotes possuem o
Espécie endêmica do Cerrado e ameaçada de extinção carece de registros fotográficos e comportamentais. Registro foi feito no final de setembro. Em feito raro, biólogos fotografam três codornas-carapés na Serra da Canastra Foi durante uma das campanhas de campo do projeto de pesquisa “Onde está o Bacurau?”, que tem como objetivo encontrar novas populações do bacurau-de-rabo-branco (Hydropsalis candicans) na região do Triângulo Mineiro e do Alto Paranaíba, que três biólogos tiveram uma grata surpresa: filmar e fotografar três indivíduos de codorna-carapé (Taoniscus nanus). O feito é considerado raro já que a espécie vive escondida em meio à vegetação e possui pouquíssimos registros disponíveis na internet. O encontro aconteceu na área do Parque Nacional da Serra da Canastra, em São Roque de Minas (MG). “É como se tivéssemos ganhado na loteria. Vimos três indivíduos na mesma noite e em menos de uma hora. Foi demais”, conta em êxtase o biólogo e ambientalista Gustavo Malacco. Ele lembra todos os detalhes daquela noite de expedição em 20 de setembro. “Estávamos em uma área de transição daquele campo limpo mais seco e pedregoso para os campos de murundus, uma vegetação típica do cerrado que consiste em uma área plana, inundável em períodos de chuva e com vários microrrelevos ou morrotes de terra cobertos por vegetação lenhosa”, explica. Espécie endêmica do Cerrado e ameaçada de extinção, codorna-carapé é registra na Serra da Canastra Vitor Tolentino Malacco estava acompanhado do também biólogo Vitor Tolentino e do estudante de biologia Diego Gomes. “Nós costumamos nos separar para tentar ampliar a área de distribuição do Bacurau e sempre combinamos um ponto de encontro. Eu voltei mais rápido e os dois ficaram para trás. Quando eles chegaram já vieram falando ‘acabamos de filmar e fotografar dois indivíduos de Taoniscus’. Eu fiquei em choque. Já logo brinquei com o Diego que é estagiário e está iniciando a carreira. Falei que ele era muito sortudo. Eu fiquei doido, imagina que azar de não ter ido com eles, pensei comigo ‘me ferrei’. Quando eu ia ter a oportunidade de ver esse bicho?”, indaga o biólogo. Apesar da frustração inicial, Malacco foi premiado quase no fim da atividade de campo. Ainda na mesma área de transição, ele ouviu o som do que parecia ser uma codorna-carapé e logo depois conseguiu avistar o voo. “Falei ‘é muita sorte’, não é possível. Fui seguindo os voos, o indivíduo fez uns três ou quatro voos e parou no chão. Eu fiquei acompanhando no chão, parecia um ratinho, andava bem rápido. Foi um encontro muito feliz pra gente”, lembra. A espécie possui hábitos terrícolas e busca refúgios em buracos ou tocas de outros animais como o roedor preá Diego Gomes Privilégio Para Diego Gomes, estudante do último ano do curso de biologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e estagiário do projeto de pesquisa “Onde está o Bacurau?”, se ele pudesse resumir o encontro em uma só palavra ela seria privilégio. “Eu já tinha conhecimento do status de conservação da codorna-carapé e sabia o quão raramente a espécie havia sido fotografada. Mas confesso que, naquele momento, não percebi o quão especial era a minha conquista. Foi somente depois de uma conversa com o Gustavo Malacco, que me contou que aquele havia sido a primeira vez que avistou essa ave após mais de 20 anos de carreira que eu compreendi o quão privilegiado fui por registrar três indivíduos em uma única noite, logo no início da minha carreira”, diz. Além de se especializar na área da ornitologia na universidade, Gomes levou seu interesse pelas aves para fora do universo acadêmico, transformando a observação de aves também em um hobby. Em seu perfil no Wikiaves, já são mais de 500 espécies fotografadas. “Todo observador ou ornitólogo ama registrar uma nova espécie em seu caderno ou em plataformas como Wikiaves ou eBird. É como se fosse um novo Pokémon para a coleção”, relata o estudante. “É possível que eu nunca mais tenha a oportunidade de ver essa espécie, uma vez que, além de ser uma ave difícil de avistar, ela enfrenta uma grande ameaça devido à pressão que o bioma Cerrado sofre atualmente. No entanto, levarei eternamente comigo a sensação incrível de ter tido esse privilégio”, completa o estudante. Sua área de ocorrência abrange os estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, São Paulo e Distrito Federal Diego Gomes A espécie Segundo o Wikiaves, a codorna-carapé é uma espécie de ave da família dos tinamídeos e monotípica no gênero Taoniscus. É o menor representante de sua família, medindo entre 14 e 18 centímetros e pesando entre 43 e 46 gramas. O termo “carapé” vem do tupi-guarani e significa anão. Também chamada de codorna-buraqueira, perdizinha, inhambuí, codorninha, carapé, inhambu-carapé e inhambu-nanico, a codorna-carapé apresenta tonalidades diferentes em sua plumagem que vão do ocre-rosado ao ocre-acinzentado, coloração aproximada a das codornas (Nothura) e das perdizes (Rhynchotus). Os filhotes possuem o alto da cabeça castanho-avermelhado com rajas negras bem definidas, e faces ocre com manchas anegradas. A espécie possui hábitos terrícolas e busca refúgios em buracos ou tocas de outros animais como o roedor preá (Cavia aperea), que forma túneis debaixo dos capinzais de veredas úmidas. O intuito é se esconder de predadores como o falcão-de-coleira (Falco femoralis) e o gavião-de-rabo-branco (Buteo albicaudatus). Em razão desses esconderijos, sua observação e até mesmo sua vocalização acabam sendo difíceis. Para completar, a vocalização, se assemelha ao estridular dos grilos, o que também acaba confundindo os observadores. A codorna-carapé é uma espécie de ave da família dos tinamídeos e monotípica no gênero Taoniscus Vitor Tolentino Sua área de ocorrência abrange os estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, São Paulo e Distrito Federal. Atualmente os principais registros da ocorrência dessa rara espécie são na região de cerrado de Goiás e Minas Gerais. Há registros também para o Tocantins, nas áreas do Parque Estadual do Jalapão. O animal pode ser encontrado em regiões de cerrado e campos naturais, e há relatos de sua existência também para as bordas de matas de galeria próximas a rios. Gosta de lugares altos, por isso vive entre 700 e 1000 metros de altitude, aproximadamente. A espécie é onívora e se alimenta de pequenos invertebrados, como artrópodes, e também de folhas, brotos e sementes. Na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), a codorna-carapé é classificada como vulnerável. Sobre o projeto 'Onde está o bacurau?' Criado em 2017, pelo biólogo Gustavo Malacco, o projeto de pesquisa é gerenciado pela Associação para a Gestão Socioambiental do Triângulo Mineiro (Angá) desde 2022, com o intuito de não somente procurar por novas populações do bacurau-de-rabo-branco, mas também identificar as ameaças da espécie e propor ações para sua conservação. “O bacurau-de-rabo-branco é uma espécie de ave ameaçada de extinção que ocorre apenas na América do Sul. No Brasil, era comum de ser encontrada apenas no Parque das Emas, na divisa entre Goiás e Mato Grosso do Sul, mas em 2017 foi descoberto na zona rural de Uberaba”, explica o idealizador. A espécie gosta de habitar campos naturais de Cerrado, no entanto, nos últimos 50 anos esses ambientes passaram por várias transformações decorrentes de ações humanas, como é o caso do desmatamento decorrente do agronegócio na região. Macho de bacurau-de-rabo-branco em Uberaba (MG) Diego Gomes De acordo com Malacco, são três os principais fatores de risco à espécie: Os empreendimentos minerários para a extração de argila refratária, que converte os campos naturais em ambientes alterados, com predomínio de lagoas; A expansão da agricultura e pecuária, que podem gerar diversos impactos ambientais como contaminação das águas com agrotóxicos, desmatamento da cobertura nativa e alterações no clima; E as queimadas, bastante utilizadas na agropecuária na estação seca com o objetivo de “limpar a terra” para o plantio, mas que empobrecem a biodiversidade local. Em agosto de 2023, foi realizada a primeira expedição de campo para busca da espécie em Uberaba. “Registramos o primeiro macho e a primeira fêmea, sendo os dois indivíduos avistados no mesmo fragmento. Ao todos foram seis indivíduos encontrados em quatro novos fragmentos”, conta o estudante Diego Gomes, que participou da atividade ao lado do biólogo Vitor Tolentino. A outra campanha de campo será realizada em outubro, em uma região diferente. Fêmea de bacurau-de-rabo-branco em Uberaba (MG) Diego Gomes VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente