Por que Harvard está sendo acusada de favorecer estudantes brancos
Ação apresentada nesta segunda-feira (03/07) questiona as chamadas 'admissões por legado', uma semana depois de a Suprema Corte americana tomar decisão contra as ações afirmativas. Jovem protesta contra decisão da Suprema Corte americana, levantando cartaz que diz: '43% dos estudantes brancos em Harvard são [admitidos por serem classificados como] legado, atletas e filhos de doadores. Quem está sendo 'beneficiado de forma injusta' aqui?' Getty Images/via BBC A antiga e polêmica prática da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, de favorecer a admissão de candidatos que tenham laços familiares com a instituição está enfrentando agora uma ação na Justiça. As chamadas legacy admissions — algo como "admissões por legado" — facilitam o ingresso de alunos cujos pais ou parentes tenham estudado em Harvard ou tenham doado dinheiro à instituição. Os beneficiados são na maioria americanos brancos, uma vez que a maior parte das universidades de elite dos EUA só começou a admitir estudantes de grupos minoritários há uma geração. Por isso, as admissões por legado são há muito tempo vistas como uma vantagem para os brancos e ricos. Novo Ensino Médio: secretários de educação defendem carga horária menor para matérias optativas Milionário chinês fracassa pela 27ª vez em 'vestibular' Uma organização da sociedade civil acionou a Justiça nesta segunda-feira (03/07) pedindo que o governo impeça a continuidade desse tipo de admissão. A ação foi apresentada poucos dias depois que a Suprema Corte americana decidiu que Harvard e outras universidades dos EUA não podem mais considerar a raça como um fator-chave nas admissões - por exemplo, com ações afirmativas para negros e latinos. Em uma decisão histórica na quinta-feira (29/06), a mais alta corte do país votou por 6 a 3 para revogar as ações afirmativas, uma medida que já existe há décadas no país. Estimulada pela decisão da semana passada, a Lawyers for Civil Rights (LCR) — uma organização sem fins lucrativos com sede em Boston — apresentou uma queixa na Justiça federal contra Harvard. A LCR argumenta que a universidade concede "preferência especial em seu processo de admissão a centenas de estudantes em sua maioria brancos — não por qualquer coisa que eles tenham realizado, mas apenas por quem são seus parentes". A organização defende que a política de legacy admissions viola um artigo da Lei dos Direitos Civis e aponta para dados do National Bureau of Economic Research (NBER; Instituto Nacional de Pesquisas Econômicas, em tradução livre). Eles mostram que quase 70% dos candidatos admitidos por "legado" são brancos e que esses alunos têm seis a sete vezes mais chances de serem admitidos em Harvard do que os que não se candidatam através dessa categoria. O estudo do NBER acrescenta que, do total que novos estudantes brancos da universidade, mais de 43% entraram por admissões de legado; por fazerem parte da lista de interesse do reitor; por serem atletas ou filhos de professores e funcionários. Harvard não quis se posicionar sobre o caso. Apresentada em nome de três grupos que representam comunidades negras e latinas na região de New England, a ação pede que o Departamento de Educação do país investigue as admissões por legado de Harvard, considere-as ilegais e ordene que a universidade acabe com a prática se quiser continuar recebendo verbas federais. "Não há direito de nascença em Harvard", disse o diretor executivo da LCR, Ivan Espinoza-Madrigal, em um comunicado. "Como a Suprema Corte observou recentemente, 'eliminar a discriminação racial significa eliminar tudo isso'." Ele acrescentou: "Por que estamos recompensando os jovens por privilégios e vantagens acumulados por gerações anteriores? O sobrenome de sua família e o tamanho de sua conta bancária não são uma medida de mérito e não devem ter influência no processo de admissão na faculdade." A congressista Barbara Lee concordou. A democrata da Califórnia escreveu no Twitter: "Sejamos claros: a ação afirmativa ainda existe para os brancos. Chama-se admissão por legado." Harvard se recusou a comentar a ação apresentada nesta segunda-feira, mas direcionou à BBC sua resposta na semana passada, relativa à decisão da Suprema Corte. No comunicado de quinta-feira passada, a universidade disse que continuaria a receber "pessoas de muitas origens, perspectivas e experiências". As admissões por legado já foram proibidas em instituições como a Universidade da Califórnia e todas as universidades públicas do Colorado. Entretanto, esse tipo de admissão ainda responde por quase um quarto dos novos alunos em algumas das melhores universidades — as quais argumentam que a iniciativa constrói uma forte comunidade de ex-alunos e uma base de doadores. Ex-aluno da rede pública formado em Harvard dá 5 dicas para fazer faculdade nos EUA
Ação apresentada nesta segunda-feira (03/07) questiona as chamadas 'admissões por legado', uma semana depois de a Suprema Corte americana tomar decisão contra as ações afirmativas. Jovem protesta contra decisão da Suprema Corte americana, levantando cartaz que diz: '43% dos estudantes brancos em Harvard são [admitidos por serem classificados como] legado, atletas e filhos de doadores. Quem está sendo 'beneficiado de forma injusta' aqui?' Getty Images/via BBC A antiga e polêmica prática da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, de favorecer a admissão de candidatos que tenham laços familiares com a instituição está enfrentando agora uma ação na Justiça. As chamadas legacy admissions — algo como "admissões por legado" — facilitam o ingresso de alunos cujos pais ou parentes tenham estudado em Harvard ou tenham doado dinheiro à instituição. Os beneficiados são na maioria americanos brancos, uma vez que a maior parte das universidades de elite dos EUA só começou a admitir estudantes de grupos minoritários há uma geração. Por isso, as admissões por legado são há muito tempo vistas como uma vantagem para os brancos e ricos. Novo Ensino Médio: secretários de educação defendem carga horária menor para matérias optativas Milionário chinês fracassa pela 27ª vez em 'vestibular' Uma organização da sociedade civil acionou a Justiça nesta segunda-feira (03/07) pedindo que o governo impeça a continuidade desse tipo de admissão. A ação foi apresentada poucos dias depois que a Suprema Corte americana decidiu que Harvard e outras universidades dos EUA não podem mais considerar a raça como um fator-chave nas admissões - por exemplo, com ações afirmativas para negros e latinos. Em uma decisão histórica na quinta-feira (29/06), a mais alta corte do país votou por 6 a 3 para revogar as ações afirmativas, uma medida que já existe há décadas no país. Estimulada pela decisão da semana passada, a Lawyers for Civil Rights (LCR) — uma organização sem fins lucrativos com sede em Boston — apresentou uma queixa na Justiça federal contra Harvard. A LCR argumenta que a universidade concede "preferência especial em seu processo de admissão a centenas de estudantes em sua maioria brancos — não por qualquer coisa que eles tenham realizado, mas apenas por quem são seus parentes". A organização defende que a política de legacy admissions viola um artigo da Lei dos Direitos Civis e aponta para dados do National Bureau of Economic Research (NBER; Instituto Nacional de Pesquisas Econômicas, em tradução livre). Eles mostram que quase 70% dos candidatos admitidos por "legado" são brancos e que esses alunos têm seis a sete vezes mais chances de serem admitidos em Harvard do que os que não se candidatam através dessa categoria. O estudo do NBER acrescenta que, do total que novos estudantes brancos da universidade, mais de 43% entraram por admissões de legado; por fazerem parte da lista de interesse do reitor; por serem atletas ou filhos de professores e funcionários. Harvard não quis se posicionar sobre o caso. Apresentada em nome de três grupos que representam comunidades negras e latinas na região de New England, a ação pede que o Departamento de Educação do país investigue as admissões por legado de Harvard, considere-as ilegais e ordene que a universidade acabe com a prática se quiser continuar recebendo verbas federais. "Não há direito de nascença em Harvard", disse o diretor executivo da LCR, Ivan Espinoza-Madrigal, em um comunicado. "Como a Suprema Corte observou recentemente, 'eliminar a discriminação racial significa eliminar tudo isso'." Ele acrescentou: "Por que estamos recompensando os jovens por privilégios e vantagens acumulados por gerações anteriores? O sobrenome de sua família e o tamanho de sua conta bancária não são uma medida de mérito e não devem ter influência no processo de admissão na faculdade." A congressista Barbara Lee concordou. A democrata da Califórnia escreveu no Twitter: "Sejamos claros: a ação afirmativa ainda existe para os brancos. Chama-se admissão por legado." Harvard se recusou a comentar a ação apresentada nesta segunda-feira, mas direcionou à BBC sua resposta na semana passada, relativa à decisão da Suprema Corte. No comunicado de quinta-feira passada, a universidade disse que continuaria a receber "pessoas de muitas origens, perspectivas e experiências". As admissões por legado já foram proibidas em instituições como a Universidade da Califórnia e todas as universidades públicas do Colorado. Entretanto, esse tipo de admissão ainda responde por quase um quarto dos novos alunos em algumas das melhores universidades — as quais argumentam que a iniciativa constrói uma forte comunidade de ex-alunos e uma base de doadores. Ex-aluno da rede pública formado em Harvard dá 5 dicas para fazer faculdade nos EUA