'Sede de possibilidades': entenda como a seca afeta população sem-teto no DF
'Sede de possibilidades': entenda como a seca afeta população sem-teto no DF
Umidade relativa do ar em Brasília chegou aos 10% na última semana; recomendado pela OMS é 60%. g1 mostra falta de assistência para pessoas em vulnerabilidade que sofrem sem opções para aliviar desconforto causado pelo calor e baixa umidade. Pessoas em situação de rua contam como lidam com a seca
O clima seco, típico para esta época do ano em Brasília, traz desconfortos e riscos à saúde. Na última semana, a umidade relativa do ar chegou à marca de 10%, quando o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é 60%.
Por causa da seca, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu alertas na capital federal (veja detalhes ao final da reportagem) com uma série de recomendações. Entre elas, a de beber bastante líquido e não ficar muito tempo exposto ao sol.
Para quem vive nas ruas, porém, não é tão fácil se proteger dos incômodos causados pela baixa umidade. Conseguir um copo de água para matar a sede, por exemplo, pode não ser uma tarefa muito fácil (veja vídeo acima).
"A gente chega em qualquer canto, uma estação de metrô, rodoviária, não tem água. A água que possa ter é uma água trágica, se a pessoa não tiver condição de comprar uma garrafa”, conta Francisco, que vive em situação de rua.
Davi Mesquita, também sem-teto, diz que o jeito é contar com a ajuda da população.
“Eu peço pras pessoas. Aí se as pessoas puderem me ajudar, né? Encho a garrafinha e, aí, bebo", diz Davi.
De acordo com uma pesquisa do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF), do ano passado, o DF tem 2.938 pessoas em situação de rua. A maioria delas está no Plano Piloto — com 728 sem-teto.
A Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) diz que a população em vulnerabilidade pode encontrar bebedouros nos Centros de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centros POP), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e Centro de Referência de Assistência Social (Cras) da capital.
São 44 pontos de referência. Ainda de acordo com a pasta, os 14 restaurantes comunitários também oferecem hidratação — as refeições gratuitas para a população de rua "contam com suco de frutas", segundo a Sedes.
???? Veja aqui onde ficam as unidades dos Cras;
???? Veja aqui onde ficam os Centros POP;
???? Veja aqui onde ficam os Creas.
Locais públicos só funcionam em horário comercial, reclamam sem-teto
Presidente do Instituto Barba na Rua diz que opções não são suficientes na seca
Quem trabalha auxiliando os sem-teto em Brasília diz que as opções oferecidas pelo governo do DF não são suficientes para atender as necessidades que surgem nessa época de calor. Rogério Barba, presidente do Instituto Barba na Rua, lembra que os locais atendem à demanda apenas em horário comercial, nas demais horas e nos fins de semana, por exemplo, não existiriam outras possibilidades.
Além disso, segundo Barba – que já foi sem-teto – quem está longe desses pontos precisa se deslocar sempre que necessita de auxílio.
"Quer dizer que aquelas pessoas que ficam lá [nas ruas], elas têm que sair da Asa Norte por exemplo e ir para esses Departamentos Públicos para beber água?", questiona Barba.
Ele chama atenção para iniciativas como a do Instituto No Setor, que disponibiliza um bebedouro para a população, no Setor Comercial Sul. O espaço também conta com um banheiro, onde é possível tomar banho de graça.
“Enquanto o banheiro está aberto, eles têm um filtro de água. Imagina na Praça do Relógio e na Ceilândia, no Itapoã, em lugares onde tem mais população em situação de rua. Como é que esse povo faz para ter acesso à água potável?”, pergunta Rogério Barba.
José Salustiano, do Instituto No Setor, é o responsável pela organização do banheiro público. Também ex-sem-teto, ele conta que, na época que morava nas ruas, sofria com a falta de possibilidades para se hidratar e se refrescar no calor.
"Fiquei seis anos na rua. Não tinha esse banheiro, eu tinha que ir pro lago, pra lavar roupa, pra tomar banho. Quando a gente ia pro parque, às vezes tinha discriminação, o guarda chegava lá e reprimia. Pra beber água, a gente meio que comprava. Tirava dinheiro até de onde não tinha e comprava uma água. Às vezes tinha que beber uma água quente, que você pedia em um lugar e ia andando com ela", conta José.
Direito à dignidade
Para Moema Bragança Bittencourt, coordenadora do curso de Serviço Social da Universidade Católica de Brasília (UCB), é dever do estado ir até as pessoas em situação de vulnerabilidade para atender às suas necessidades, e não o contrário.
“Os profissionais devem ir onde essas pessoas se concentram, fornecendo itens como mantas, roupas, banho, água, isotônicos. Se tivessem também pontos nas praças, nos locais onde eles mais se concentram, isso seria garantir dignidade humana. [...] O estado deveria se organizar, e não aguardar que a população venha acessá-lo. A função do estado é ir atrás, fornecer, planejar e organizar”, diz a professora.
Segundo a especialista, o ideal seria que, em vários pontos do DF, houv
Umidade relativa do ar em Brasília chegou aos 10% na última semana; recomendado pela OMS é 60%. g1 mostra falta de assistência para pessoas em vulnerabilidade que sofrem sem opções para aliviar desconforto causado pelo calor e baixa umidade. Pessoas em situação de rua contam como lidam com a seca
O clima seco, típico para esta época do ano em Brasília, traz desconfortos e riscos à saúde. Na última semana, a umidade relativa do ar chegou à marca de 10%, quando o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é 60%.
Por causa da seca, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu alertas na capital federal (veja detalhes ao final da reportagem) com uma série de recomendações. Entre elas, a de beber bastante líquido e não ficar muito tempo exposto ao sol.
Para quem vive nas ruas, porém, não é tão fácil se proteger dos incômodos causados pela baixa umidade. Conseguir um copo de água para matar a sede, por exemplo, pode não ser uma tarefa muito fácil (veja vídeo acima).
"A gente chega em qualquer canto, uma estação de metrô, rodoviária, não tem água. A água que possa ter é uma água trágica, se a pessoa não tiver condição de comprar uma garrafa”, conta Francisco, que vive em situação de rua.
Davi Mesquita, também sem-teto, diz que o jeito é contar com a ajuda da população.
“Eu peço pras pessoas. Aí se as pessoas puderem me ajudar, né? Encho a garrafinha e, aí, bebo", diz Davi.
De acordo com uma pesquisa do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF), do ano passado, o DF tem 2.938 pessoas em situação de rua. A maioria delas está no Plano Piloto — com 728 sem-teto.
A Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) diz que a população em vulnerabilidade pode encontrar bebedouros nos Centros de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centros POP), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e Centro de Referência de Assistência Social (Cras) da capital.
São 44 pontos de referência. Ainda de acordo com a pasta, os 14 restaurantes comunitários também oferecem hidratação — as refeições gratuitas para a população de rua "contam com suco de frutas", segundo a Sedes.
???? Veja aqui onde ficam as unidades dos Cras;
???? Veja aqui onde ficam os Centros POP;
???? Veja aqui onde ficam os Creas.
Locais públicos só funcionam em horário comercial, reclamam sem-teto
Presidente do Instituto Barba na Rua diz que opções não são suficientes na seca
Quem trabalha auxiliando os sem-teto em Brasília diz que as opções oferecidas pelo governo do DF não são suficientes para atender as necessidades que surgem nessa época de calor. Rogério Barba, presidente do Instituto Barba na Rua, lembra que os locais atendem à demanda apenas em horário comercial, nas demais horas e nos fins de semana, por exemplo, não existiriam outras possibilidades.
Além disso, segundo Barba – que já foi sem-teto – quem está longe desses pontos precisa se deslocar sempre que necessita de auxílio.
"Quer dizer que aquelas pessoas que ficam lá [nas ruas], elas têm que sair da Asa Norte por exemplo e ir para esses Departamentos Públicos para beber água?", questiona Barba.
Ele chama atenção para iniciativas como a do Instituto No Setor, que disponibiliza um bebedouro para a população, no Setor Comercial Sul. O espaço também conta com um banheiro, onde é possível tomar banho de graça.
“Enquanto o banheiro está aberto, eles têm um filtro de água. Imagina na Praça do Relógio e na Ceilândia, no Itapoã, em lugares onde tem mais população em situação de rua. Como é que esse povo faz para ter acesso à água potável?”, pergunta Rogério Barba.
José Salustiano, do Instituto No Setor, é o responsável pela organização do banheiro público. Também ex-sem-teto, ele conta que, na época que morava nas ruas, sofria com a falta de possibilidades para se hidratar e se refrescar no calor.
"Fiquei seis anos na rua. Não tinha esse banheiro, eu tinha que ir pro lago, pra lavar roupa, pra tomar banho. Quando a gente ia pro parque, às vezes tinha discriminação, o guarda chegava lá e reprimia. Pra beber água, a gente meio que comprava. Tirava dinheiro até de onde não tinha e comprava uma água. Às vezes tinha que beber uma água quente, que você pedia em um lugar e ia andando com ela", conta José.
Direito à dignidade
Para Moema Bragança Bittencourt, coordenadora do curso de Serviço Social da Universidade Católica de Brasília (UCB), é dever do estado ir até as pessoas em situação de vulnerabilidade para atender às suas necessidades, e não o contrário.
“Os profissionais devem ir onde essas pessoas se concentram, fornecendo itens como mantas, roupas, banho, água, isotônicos. Se tivessem também pontos nas praças, nos locais onde eles mais se concentram, isso seria garantir dignidade humana. [...] O estado deveria se organizar, e não aguardar que a população venha acessá-lo. A função do estado é ir atrás, fornecer, planejar e organizar”, diz a professora.
Segundo a especialista, o ideal seria que, em vários pontos do DF, houvesse fornecimento de itens básicos, até a hidratação nasal, por exemplo. Além disso, atendimento para verificar as condições de saúde, orientações para busca de sombra e espaços mais ventilados.
“É preciso informar também essa população, acolher, para que ela enxergue um policial, uma unidade básica, um centro de referência e até os centros de atendimentos das mais diversas secretarias do DF como referências para pedir auxílio. Abrir as portas do aparato do estado para que as pessoas possam minimamente entrar em um lugar com ar condicionado, beber uma água, usar um banheiro”, diz Moema.
Calor e seca
Por causa da seca, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu alertas laranja e vermelho no Distrito Federal, já que a baixa umidade pode representar perigo para a saúde.
???? ALERTA AMARELO (potencial perigo): umidade entre 30% e 20% por cinco dias seguidos
???? ALERTA LARANJA (perigo): umidade abaixo de 20% por três dias consecutivos
???? ALERTA VERMELHO (grande perigo): umidade abaixo de 12% por dois dias seguidos
Segundo Mamedes Melo, assessor técnico especial do Inmet, o ano de 2020 foi o ano em que se registrou as mais altas temperaturas máximas no DF nos últimos 23 anos – desde 2000 até 8 de agosto de 2023.
“Porém ressalto que outubro é o mês em que se registra a temperatura máxima mais elevada no DF e, em outubro de 2020, a temperatura máxima chegou a 37,8ºC em Águas Emendadas e 37,3ºC no Gama”, diz.
Assim, o auge do calor em Brasília ainda deve ser sentido após o próximo mês. Em média, um adulto precisa beber 2 litros de água por dia, mas a quantidade pode variar de acordo com o peso corporal. Além de se hidratar, as recomendações incluem não ficar muito tempo exposto ao sol, usar hidratantes para pele e umidificar o ambiente.
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