Da cólica severa a dor após transar: entenda os impactos da endometriose na saúde
Depois de sofrer nove anos com sintomas como dor após as relações sexuais e infecções urinárias de repetição, a cantora Anitta contou em seu Twitter, na última quinta-feira (7), que descobriu ter endometriose. A doença é diagnosticada por meio de exames de imagem como ultrassonografia transvaginal e ressonância magnética com preparo intestinal. Nenhum médico até então havia solicitado esse tipo de avaliação à artista.
Na endometriose, o tecido que reveste o útero acaba crescendo fora do órgão. "É consenso entre especialistas a origem multifatorial da doença. Sabe-se que fatores genéticos, epigenéticos, imunológicos, hormonais e ambientais influenciam o surgimento e desenvolvimento da endometriose", afirma o ginecologista Giuliano Borrelli, da Clínica Alira, em São Paulo, e membro da Sociedade Brasileira de Endometriose.
Quando a endometriose acontece?
Borreli ainda explica que a doença aparece muito cedo na vida da mulher, provavelmente desde o nascimento, apesar de se manifestar somente quando os hormônios ovarianos começam a agir, a partir da primeira menstruação.
De modo geral, a manifestação dos sintomas ocorre já muito precocemente, ainda no período da adolescência para muitas mulheres. No entanto, o diagnóstico da endometriose acontece em média entre os 25 anos e os 35 anos de idade.
Problemas urinários
Anitta contou que, antes de chegar ao diagnóstico de endometriose, sofreu com episódios frequentes de cistite (infecção urinária) e dor após o sexo.
Segundo o médico, sintomas urinários são muito frequentes em mulheres com endometriose, especialmente urgência de urinar e aumento da frequência urinária. Outro sintoma muito comum é a dor durante a micção, a chamada disúria. Por fim, muitas mulheres com endometriose têm também episódios de infecção urinária de repetição.
Mas os sintomas da endometriose incluem ainda cólica menstrual severa ou mesmo incapacitante, que afeta as atividades da mulher; dor na relação sexual ou mesmo por alguns minutos ou horas após o término da relação; dor pélvica não relacionada com o período menstrual; dor para urinar e/ou evacuar especialmente no período menstrual ou com maior intensidade nesse período, e dificuldade para engravidar (infertilidade).
Em cerca de 40% a 50% dos casos, a endometriose pode ser a causa de infertilidade feminina. Mulheres que engravidam com endometriose não tratada têm maior probabilidade de partos prematuros e sangramento nos primeiros três meses de gravidez.
A endometriose e a vida sexual
A endometriose pode impactar bastante a vida sexual da mulher. A começar pela dor durante e após a relação sexual ou mesmo durante o orgasmo, afetando diretamente a vida sexual saudável.
Além disso, tratamentos hormonais de longo prazo para endometriose podem diminuir a libido e também impactar negativamente a qualidade da vida sexual. Sem contar a parte psicológica e emocional que costuma ser muito afetada. O medo de sentir dor muitas vezes inibe a própria tentativa de manter qualquer tipo de relação sexual.
De acordo com Borrelli, o tratamento da endometriose pode ser dividido em:
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Melhorias do estilo de vida, com atenção aos hábitos alimentares e prática de atividade física de rotina;
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Tratamento clínico medicamentoso, que se resume a analgésicos para alívio da dor e terapias hormonais para bloqueio do ciclo menstrual visando a melhora da dor;
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Tratamento cirúrgico para remoção de todas as lesões (ou focos) de endometriose por meio da cirurgia minimamente invasiva (laparoscopia ou robótica);
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Terapias complementares como fisioterapia, psicoterapia, osteopatia e acupuntura, que também ajudam na diminuição da dor causada pela doença.
Mulheres assintomáticas
Borreli fala que algumas mulheres com endometriose são assintomáticas.
Os mecanismos de percepção da dor orquestrados pelo sistema nervoso central, independentemente da origem ou causa da dor, são complexos e podem variar muito de um indivíduo para outro. Além disso, na endometriose, fatores relacionados à inflamação no organismo, influenciados pela alimentação, podem levar a diferenças entre os sintomas que cada mulher sente com a endometriose".Giuliano Borreli, ginecologista
Mesmo que sejam assintomáticas, é importante que essas mulheres sejam acompanhadas com frequência. Elas nem sempre terão a necessidade de algum tratamento específico. Por outro lado, algumas assintomáticas, a depender dos locais das lesões de endometriose e dos riscos de danos potenciais a determinadas estruturas ou órgãos, podem precisar de tratamento, incluindo a cirurgia. "Vale sempre ressaltar: o tratamento da endometriose deve ser sempre individualizado para cada paciente", diz Borrelli.
Endometriose em locais estranhos
As áreas mais acometidas pela endometriose encontram-se na cavidade abdominal (ovários, ligamentos uterinos, tubas uterinas, vagina, intestino, bexiga, apêndice, diafragma).
Mas existem relatos de acometimento da endometriose em locais distantes da cavidade abdominal, no entanto, de forma bem mais rara. Não se sabe ao certo o motivo e nem como isso acontece em todos esses locais.
Sabe-se que a endometriose pode acometer, de forma menos frequente, a região do tórax, atingindo a pleura (membrana que recobre a cavidade torácica e o pulmão), o próprio pulmão e o pericárdio (membrana que recobre o coração). Ainda menos comum é o acometimento do fígado. "Alguns relatos isolados e extremamente raros de endometriose acometendo as narinas e o cérebro são encontrados na literatura médica", finaliza.
Fonte: https://br.vida-estilo.yahoo.com/colica-severa-a-dor-apos-transar-os-impactos-da-endometriose-saude-da-mulher-220125468.html