Dever de casa: essencial ou superado? O que dizem os especialistas e como isso impacta a rotina do seu filho

No modelo de escola integral, o dever de casa poderia ser dispensável, mas enquanto esta não é uma realidade para a maioria dos estudantes brasileiros, é importante que a tarefa seja mais prazerosa e explicada previamente. Dever de casa precisa estimular o raciocínio crítico independente da quantidade, defendem especialistas Adobe Stock ???? Para alguns, um sacrifício, para outros, essencial. Afinal, qual é a importância do dever de casa? Especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que, no modelo de educação ideal, – a escola integral - a tarefa de casa seria até dispensável, pelo fato de as crianças já passarem 7 ou mais horas na instituição de ensino. E o que hoje é chamado dever de casa já seria feito pelos estudantes na própria escola. ???? ???? Mas como a escola integral ainda é uma realidade distante para a maioria dos estudantes, o dever de casa ainda tem uma relevância e precisa respeitar alguns critérios, para que atinja seus objetivos. O ideal, segundo especialistas, é que esses deveres: Não sejam repetitivos; Não estimulem a decoreba, mas sim a criatividade e a curiosidade; Estimulem o raciocínio crítico; Precisam ser previamente explicados em sala para que a criança tenha condições de realizá-los sozinha, com autonomia; Precisam ser prazerosos; Não podem exigir um tempo longo demais para serem realizados; Precisam ser feitos em ambiente adequado, de modo que dificulte a dispersão. ????A lição de casa pode ser um instrumento que ajuda no desenvolvimento da criança, mas a porcentagem dos que têm uma condição favorável para realizá-la é baixa, segundo o professor de psicologia educacional da Unicamp Sergio Leite. “No ensino fundamental, em que a criança está desenvolvendo uma relação afetiva com a própria escola, a presença do adulto é extremamente necessária. Dificilmente uma criança sozinha dá conta de uma lição, mesmo que seja um reforço do que teve em sala de aula”, afirma o professor. Leite diz ainda que não há consenso na literatura sobre o dever de casa. Mas que geralmente os profissionais da rede pública são a favor da cobrança dessas tarefas. Isso porque a lição de casa possibilita desenvolver hábitos de estudo, responsabilidade, disciplina e aproxima as famílias da escola e do conteúdo pedagógico. Por outro lado, os professores que não valorizam tanto o dever de casa o fazem principalmente devido à diversidade socioeconômica do país. Como muitos pais não têm condições de ajudar os filhos nas atividades escolares, essas tarefas podem perpetuar a situação de injustiça. Como os pais são responsáveis por oferecer apoio e garantir o espaço e materiais necessários para a realização da tarefa, a lição de casa precisa ser discutida na reunião de pais, defende a mestre em Educação e coordenadora pedagógica na Roda Educativa Angela Luiz Lopes. A educadora acrescenta que antes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o currículo era muito mais pautado em conteúdo. Hoje, ele favorece e apoia processos de desenvolvimento de competências e habilidades. Ela defende ainda que não só o tipo de dever de casa precisa ser revisto, mas também os grupamentos na sala de aula, de forma a promover mais dinamismo. Por exemplo: não ter somente aluno sentado atrás de aluno, mas também atividades em grupos e em círculos. “Como que eu amadureço um conjunto de habilidades e ela se torna uma competência? A gente ainda está patinando muito em melhorar as práticas de sala de aula. Precisamos de práticas mais pautadas na resolução de problemas, no protagonismo dos estudantes em agrupamentos diversificados. E a atividade de casa é só mais um elemento nesse processo e precisa de alguma maneira ser uma extensão ou apoio ao que está sendo proposto em sala de aula. Quando a gente tem um problema para resolver, a gente senta e pensa junto. E a escola precisa entrar nesse lugar também”, reflete a educadora. Especialistas defendem que o dever de casa tenha uma frequência diária para que ocorra a criação do hábito de estudo, mas o ideal é que ele não seja passado de um dia para o outro, para que o aluno tenha mais chances de realizá-lo. Por exemplo: uma tarefa passada numa segunda-feira pode ser entregue na quarta ou na quinta. E uma tarefa passada na sexta pode ser entregue na segunda ou na terça. Além disso, é extremamente importante que a tarefa seja corrigida logo no início da aula: “Pior do que não dar lição de casa é dar uma tarefa e não fazer nada com ela. Se eu dei uma leitura, eu preciso começar a aula retomando o que eles fizeram. Só assim que aquele aluno que não se dedicou tanto vai entender que fazer a lição de casa é importante para ele se posicionar na aula. Se todo mundo leu o texto e eu não li, o que eu vou comentar?”, questiona Lopes. Sempre que a família sentir qualquer sinal de resistência, insatisfação ou tristeza, é importante que os pais conversem com a escola. E se os professores sentirem que a adesão ao dever é pequena, também é importante que eles chamem os pais para conversar. Fazer os a

Dever de casa: essencial ou superado? O que dizem os especialistas e como isso impacta a rotina do seu filho

No modelo de escola integral, o dever de casa poderia ser dispensável, mas enquanto esta não é uma realidade para a maioria dos estudantes brasileiros, é importante que a tarefa seja mais prazerosa e explicada previamente. Dever de casa precisa estimular o raciocínio crítico independente da quantidade, defendem especialistas Adobe Stock ???? Para alguns, um sacrifício, para outros, essencial. Afinal, qual é a importância do dever de casa? Especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que, no modelo de educação ideal, – a escola integral - a tarefa de casa seria até dispensável, pelo fato de as crianças já passarem 7 ou mais horas na instituição de ensino. E o que hoje é chamado dever de casa já seria feito pelos estudantes na própria escola. ???? ???? Mas como a escola integral ainda é uma realidade distante para a maioria dos estudantes, o dever de casa ainda tem uma relevância e precisa respeitar alguns critérios, para que atinja seus objetivos. O ideal, segundo especialistas, é que esses deveres: Não sejam repetitivos; Não estimulem a decoreba, mas sim a criatividade e a curiosidade; Estimulem o raciocínio crítico; Precisam ser previamente explicados em sala para que a criança tenha condições de realizá-los sozinha, com autonomia; Precisam ser prazerosos; Não podem exigir um tempo longo demais para serem realizados; Precisam ser feitos em ambiente adequado, de modo que dificulte a dispersão. ????A lição de casa pode ser um instrumento que ajuda no desenvolvimento da criança, mas a porcentagem dos que têm uma condição favorável para realizá-la é baixa, segundo o professor de psicologia educacional da Unicamp Sergio Leite. “No ensino fundamental, em que a criança está desenvolvendo uma relação afetiva com a própria escola, a presença do adulto é extremamente necessária. Dificilmente uma criança sozinha dá conta de uma lição, mesmo que seja um reforço do que teve em sala de aula”, afirma o professor. Leite diz ainda que não há consenso na literatura sobre o dever de casa. Mas que geralmente os profissionais da rede pública são a favor da cobrança dessas tarefas. Isso porque a lição de casa possibilita desenvolver hábitos de estudo, responsabilidade, disciplina e aproxima as famílias da escola e do conteúdo pedagógico. Por outro lado, os professores que não valorizam tanto o dever de casa o fazem principalmente devido à diversidade socioeconômica do país. Como muitos pais não têm condições de ajudar os filhos nas atividades escolares, essas tarefas podem perpetuar a situação de injustiça. Como os pais são responsáveis por oferecer apoio e garantir o espaço e materiais necessários para a realização da tarefa, a lição de casa precisa ser discutida na reunião de pais, defende a mestre em Educação e coordenadora pedagógica na Roda Educativa Angela Luiz Lopes. A educadora acrescenta que antes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o currículo era muito mais pautado em conteúdo. Hoje, ele favorece e apoia processos de desenvolvimento de competências e habilidades. Ela defende ainda que não só o tipo de dever de casa precisa ser revisto, mas também os grupamentos na sala de aula, de forma a promover mais dinamismo. Por exemplo: não ter somente aluno sentado atrás de aluno, mas também atividades em grupos e em círculos. “Como que eu amadureço um conjunto de habilidades e ela se torna uma competência? A gente ainda está patinando muito em melhorar as práticas de sala de aula. Precisamos de práticas mais pautadas na resolução de problemas, no protagonismo dos estudantes em agrupamentos diversificados. E a atividade de casa é só mais um elemento nesse processo e precisa de alguma maneira ser uma extensão ou apoio ao que está sendo proposto em sala de aula. Quando a gente tem um problema para resolver, a gente senta e pensa junto. E a escola precisa entrar nesse lugar também”, reflete a educadora. Especialistas defendem que o dever de casa tenha uma frequência diária para que ocorra a criação do hábito de estudo, mas o ideal é que ele não seja passado de um dia para o outro, para que o aluno tenha mais chances de realizá-lo. Por exemplo: uma tarefa passada numa segunda-feira pode ser entregue na quarta ou na quinta. E uma tarefa passada na sexta pode ser entregue na segunda ou na terça. Além disso, é extremamente importante que a tarefa seja corrigida logo no início da aula: “Pior do que não dar lição de casa é dar uma tarefa e não fazer nada com ela. Se eu dei uma leitura, eu preciso começar a aula retomando o que eles fizeram. Só assim que aquele aluno que não se dedicou tanto vai entender que fazer a lição de casa é importante para ele se posicionar na aula. Se todo mundo leu o texto e eu não li, o que eu vou comentar?”, questiona Lopes. Sempre que a família sentir qualquer sinal de resistência, insatisfação ou tristeza, é importante que os pais conversem com a escola. E se os professores sentirem que a adesão ao dever é pequena, também é importante que eles chamem os pais para conversar. Fazer os alunos cumprirem a tarefa de casa com entusiasmo é um desafio para os professores, mas defendido como determinante para especialistas: “Ressignificar a tarefa de casa na direção de desenvolver a ‘curiosidade epistemológica’ apontada por Paulo Freire no livro Pedagogia da Autonomia parece-nos urgente para que a motivação intrínseca e a habilidade para pesquisar sejam desenvolvidas e, assim, a tarefa de casa possa ser cumprida com entusiasmo e que possa resultar em aprendizagem e sucesso escolar”, afirma a professora da PUC Campinas Monica Piccione Gomes Rios. Nem muito nem pouco? Há pais que sentem falta de mais deveres para que as crianças consigam fixar melhor o conteúdo dado em sala. O advogado carioca Marcelo Almeida, que tem filho em escola pública, diz que tem semana que só chegam duas folhas para casa, no máximo. “Acho que poderia ter um pouco mais. Meu filho acaba não se sentando para estudar por conta própria por não ter a obrigação. Acho que não precisaria ser tanto dever, mas poderia ter uma frequência diária, no mínimo”. Por outro lado, a advogada carioca Mylene Brasil reclama da quantidade exagerada de deveres que seu filho leva para casa. O menino de 10 anos está no 4° ano do ensino fundamental e é aluno de escola particular. Ela sente que a criança acaba tendo pouco tempo para brincar por conta também de outras atividades, como esportes. “Às vezes são 3 folhas de uma matéria e 4 de outra no mesmo dia. Por mais que seja para datas diferentes, como tem dever encaminhado todo dia, se não fizer a medida em que eles vão sendo mandados, acaba acumulando de alguma forma. Dever de casa deve acabar ou diminuir quando o ensino integral for uma realidade O professor Sérgio Leite destaca que o futuro da lição de casa está demarcado, porque a política de escola integral é inevitável. A meta 6 do Plano Nacional de Educação (PNE) é oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender pelo menos 25% dos alunos da educação básica. Mas enquanto o ensino integral não é realidade para a maioria das escolas, é importante que as tarefas de casa sejam adequadas para terem adesão e engajamento. Uma pesquisa da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo realizada em 2015 apontou que 85% dos responsáveis participam de alguma forma do dever de casa. Sem celular na escola: alunos citam 'crises de abstinência', melhora nas notas e mais socialização; 'como a saída de um vício', diz professora Reforço escolar auxilia estudantes com dificuldades na hora de fazer o dever de casa