Em desvalorização atípica na entressafra, preço médio do leite ao produtor registra 3ª queda do ano

Consumo enfraquecido, aumento das importações e diminuição nos custos de produção explicam desvalorização do produto, iniciada em maio, diz pesquisa da USP em Piracicaba. Produção de leite no Paraná. Caminhos do Campo/RPC O preço médio do leite cru ao produtor segue em desvalorização, mesmo na entressafra, quando a expectativa é de alta nas cotações. O valor médio do litro do produto ficou R$ 2,4142 na “Média Brasil” líquida em julho deste ano, um recuo de 5,69 % na comparação com o mês anterior. Essa é a terceira queda consecutiva registrada em 2023, indica levantamento mais atualizado do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), do campus da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba (SP). O consumo enfraquecido, aumento das importações e diminuição nos custos de produção são fatores que explicam a desvalorização do leite cru, iniciada em maio. (leia mais, abaixo). Na comparação com julho do ano passado, o recuo no preço foi maior, na casa dos 35%, conforme aponta o Cepea. Esse movimento de desvalorização, segundo explica a analista do Cepea para o setor, Natália Grigol, é atípico para esta época do ano. "Esse movimento de desvalorização do leite nesta época é algo atípico para o setor, já que, historicamente, o que se observa é alta dos preços, em decorrência da entressafra, uma vez que a produção não é estimulada pelo clima neste período", analisa. "Contudo, em 2023, as cotações seguem se comportando de maneira atípica, diante do consumo enfraquecido, do aumento de importações e da queda nos custos de produção. Esses fatores, combinados, têm engendrado o movimento de queda em toda a cadeia produtiva", observa a pesquisadora. Segunda queda Em junho deste ano, o preço médio do litro do leite chegou a R$ 2,556 na “Média Brasil” mesmo na entressafra, quando é comum que os valores do produtos verifiquem altas. A marca representou recuo de 22,38% na comparação com mesmo mês no ano passado. O preço médio do leite cru ao produtor, em junho, também é 6,02% menor em relação ao registrado em maio de 2023. No fim primeiro semestre, a queda acumulada de 1,4% e média é de R$ 2,7505/litro. Atacado paulista A pesquisa realizada pelo Cepea com o apoio da OCB mostrou que os preços do leite UHT, do leite em pó (400g) e da muçarela negociados entre indústrias e canais de distribuição no estado de São Paulo caíram 2,1%, 5,9% e 3,7% de junho para julho. Quando comparados com o mesmo período de 2022, esses mesmos derivados se desvalorizaram 35,8%, 23,9% e 36,4%, em termos reais (deflacionados pelo IPCA de jul/23). Entenda o cenário A analista do Cepea para o setor, Natália Grigol, explica os fatores que fizeram os preços do leite cru caírem, mesmo em época de entressafra. ????Por que o preço médio do leite cru ao produtor tem registrado queda? Natália Grigol explica que combinação do consumo enfraquecido, do aumento das importações e da diminuição nos custos de produção explica a desvalorização do leite cru, iniciada ainda em maio. ????O que ocorre na entressafra? A produção não é estimulada pelo clima, segundo Natália. O inverno seco limita a disponibilidade e a qualidade das pastagens, afetando os custos do manejo alimentar do rebanho. Entretanto, mesmo com nesse cenário de entressafra, os preços não têm seguido a tendência sazonal de alta. "A desvalorização do leite no campo ocorre em consonância com o movimento de queda observado ao longo de toda a cadeia produtiva", comenta Natália. "Com a demanda ainda fragilizada, a pressão dos canais de distribuição por preços mais baixos e os valores mais competitivos dos lácteos importados, as cotações dos derivados negociados pelos laticínios registraram queda em junho", acrescenta. ????Por que as importações impactam no preço ao produtor? Natália Grigol ressalta ainda que as importações em alta neste ano geram maior disponibilidade interna de lácteos e pressionam as cotações do setor. A pesquisadora comenta que os preços dos produtos importados à base de leite estão mais competitivos na comparação com os nacionais e isso incentiva as importações. A analista do Cepea ressalta que o aumento das importações de lácteos no primeiro semestre de 2023 foi um fator importante porque, além de o volume ter sido quase três vezes acima do registrado no ano passado, os preços seguem mais competitivos que os nacionais – o que pressiona as cotações domésticas ao longo de toda a cadeia. ????Qual é o cenário atual das importações? "Ainda que os dados da Secex mostrem que, em julho, as importações caíram 12% em relação a junho, o montante internalizado somou mais de 185 milhões de litros em equivalente leite, expressivos 71% acima do volume importado no mesmo período do ano passado. Os preços mais competitivos dos lácteos importados em relação aos produtos nacionais seguem viabilizando as importações", pontua Natália. Dados da Secex mostram que, em junho, as importações somaram mais de 212,1 milhões de litros em equivalente leite, elevando o déficit da balança

Em desvalorização atípica na entressafra, preço médio do leite ao produtor registra 3ª queda do ano

Consumo enfraquecido, aumento das importações e diminuição nos custos de produção explicam desvalorização do produto, iniciada em maio, diz pesquisa da USP em Piracicaba. Produção de leite no Paraná. Caminhos do Campo/RPC O preço médio do leite cru ao produtor segue em desvalorização, mesmo na entressafra, quando a expectativa é de alta nas cotações. O valor médio do litro do produto ficou R$ 2,4142 na “Média Brasil” líquida em julho deste ano, um recuo de 5,69 % na comparação com o mês anterior. Essa é a terceira queda consecutiva registrada em 2023, indica levantamento mais atualizado do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), do campus da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba (SP). O consumo enfraquecido, aumento das importações e diminuição nos custos de produção são fatores que explicam a desvalorização do leite cru, iniciada em maio. (leia mais, abaixo). Na comparação com julho do ano passado, o recuo no preço foi maior, na casa dos 35%, conforme aponta o Cepea. Esse movimento de desvalorização, segundo explica a analista do Cepea para o setor, Natália Grigol, é atípico para esta época do ano. "Esse movimento de desvalorização do leite nesta época é algo atípico para o setor, já que, historicamente, o que se observa é alta dos preços, em decorrência da entressafra, uma vez que a produção não é estimulada pelo clima neste período", analisa. "Contudo, em 2023, as cotações seguem se comportando de maneira atípica, diante do consumo enfraquecido, do aumento de importações e da queda nos custos de produção. Esses fatores, combinados, têm engendrado o movimento de queda em toda a cadeia produtiva", observa a pesquisadora. Segunda queda Em junho deste ano, o preço médio do litro do leite chegou a R$ 2,556 na “Média Brasil” mesmo na entressafra, quando é comum que os valores do produtos verifiquem altas. A marca representou recuo de 22,38% na comparação com mesmo mês no ano passado. O preço médio do leite cru ao produtor, em junho, também é 6,02% menor em relação ao registrado em maio de 2023. No fim primeiro semestre, a queda acumulada de 1,4% e média é de R$ 2,7505/litro. Atacado paulista A pesquisa realizada pelo Cepea com o apoio da OCB mostrou que os preços do leite UHT, do leite em pó (400g) e da muçarela negociados entre indústrias e canais de distribuição no estado de São Paulo caíram 2,1%, 5,9% e 3,7% de junho para julho. Quando comparados com o mesmo período de 2022, esses mesmos derivados se desvalorizaram 35,8%, 23,9% e 36,4%, em termos reais (deflacionados pelo IPCA de jul/23). Entenda o cenário A analista do Cepea para o setor, Natália Grigol, explica os fatores que fizeram os preços do leite cru caírem, mesmo em época de entressafra. ????Por que o preço médio do leite cru ao produtor tem registrado queda? Natália Grigol explica que combinação do consumo enfraquecido, do aumento das importações e da diminuição nos custos de produção explica a desvalorização do leite cru, iniciada ainda em maio. ????O que ocorre na entressafra? A produção não é estimulada pelo clima, segundo Natália. O inverno seco limita a disponibilidade e a qualidade das pastagens, afetando os custos do manejo alimentar do rebanho. Entretanto, mesmo com nesse cenário de entressafra, os preços não têm seguido a tendência sazonal de alta. "A desvalorização do leite no campo ocorre em consonância com o movimento de queda observado ao longo de toda a cadeia produtiva", comenta Natália. "Com a demanda ainda fragilizada, a pressão dos canais de distribuição por preços mais baixos e os valores mais competitivos dos lácteos importados, as cotações dos derivados negociados pelos laticínios registraram queda em junho", acrescenta. ????Por que as importações impactam no preço ao produtor? Natália Grigol ressalta ainda que as importações em alta neste ano geram maior disponibilidade interna de lácteos e pressionam as cotações do setor. A pesquisadora comenta que os preços dos produtos importados à base de leite estão mais competitivos na comparação com os nacionais e isso incentiva as importações. A analista do Cepea ressalta que o aumento das importações de lácteos no primeiro semestre de 2023 foi um fator importante porque, além de o volume ter sido quase três vezes acima do registrado no ano passado, os preços seguem mais competitivos que os nacionais – o que pressiona as cotações domésticas ao longo de toda a cadeia. ????Qual é o cenário atual das importações? "Ainda que os dados da Secex mostrem que, em julho, as importações caíram 12% em relação a junho, o montante internalizado somou mais de 185 milhões de litros em equivalente leite, expressivos 71% acima do volume importado no mesmo período do ano passado. Os preços mais competitivos dos lácteos importados em relação aos produtos nacionais seguem viabilizando as importações", pontua Natália. Dados da Secex mostram que, em junho, as importações somaram mais de 212,1 milhões de litros em equivalente leite, elevando o déficit da balança comercial a patamares recordes. "A quantidade importada no primeiro semestre de 2023 representa aproximadamente 9,5% da captação formal de leite cru (tendo como base os dados da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE de 2022). Vale destacar que, no mesmo período do ano passado, as importações representaram apenas 3,2% da captação nacional", aponta Natália. ????Qual é o custo operacional da pecuária leiteira em junho? Os custos operacionais da pecuária leiteira registram quedas consecutivas entre janeiro e julho deste ano. O Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira caiu 0,41% em julho na “Média Brasil”, influenciado sobretudo pela desvalorização do concentrado, dos adubos e corretivos. "Nos primeiros sete meses do ano, os custos da atividade acumularam baixa de 6,15%, incentivando investimentos na produção, o que tem feito a oferta de leite se recuperar mesmo na entressafra. O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea registrou em julho avanço de 4,76% na Média Brasil – a quarta alta consecutiva", explica. Preços líquidos nominais do leite cru captado em julho/23 nos estados que compõem a “Média Brasil”. Preços líquidos não contêm frete e impostos. Índice de capitação leiteira O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea registrou a terceira alta consecutiva em junho, avançando 3,74% na Média Brasil". A pesquisadora ressalta, entretanto, que o Índice de Captação Leiteira do Cepea (ICAP-L) começou a subir em novembro de 2022, com avanço de 0,2% na "Média Brasil", puxado pelos incrementos de 4,1% e de 3,7% nas captações do Paraná e de São Paulo. No acumulado do ano, a captação nacional registra queda de 6,4%. Fazenda Agrindus, de Descalvado (SP), iniciou produção de leite com vacas A2 em 2017. Fabiana Assis/G1 De janeiro a abril: cenário de alta no preços Entre janeiro e abril de 2023, o preço do leite aos produtores acumulou alta real de 11,8%, segundo pesquisas do Cepea da Esalq/USP. Natália Grigol explica que a valorização do leite cru em abril se manteve atrelada à queda da oferta do alimento no campo, que sofreu impacto negativo pelo avanço da entressafra do produto -período intermediário entre uma safra e a seguinte - na maior parte do Brasil. “Por isso, a disputa entre laticínios por produtores esteve intensa em abril, contexto que manteve as cotações do leite em alta”, afirmou na ocasião. Os estudos do Cepea da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) apontam que o preço do leite cru captado por laticínios em abril, e pago em maio deste ano, chegou a R$ 2.8961 por litro na "Média Brasil" líquida, uma elevação de 2,4% na comparação com o mês anterior. Em relação a março, a alta foi de 9,3%, em termos reais - os valores foram deflacionados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril, de acordo com boletim do Cepea. Os preços líquidos não contêm frete e impostos. A tabela, abaixo, mostra os preços líquidos do leite cru, captados em abril e pagos em maio deste ano, entre os estados que integram a Média Brasil. Preços líquidos nominais do leite cru captado em abril/23 nos estados da 'Média Brasil' VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e região Veja mais notícias da região no g1 Piracicaba