TESTE: você é um adulto superprotetor? Crianças precisam correr mais riscos para serem saudáveis, dizem especialistas

Com uso de telas mais intenso e superproteção dos pais, crianças estão deixando de viver aventuras — como correr em espaço aberto, escalar ou mexer com pedras e galhos. Elas devem ser apresentadas a brincadeiras de 'risco benéfico', quando são expostas ao imprevisível e à emoção, sem perigo à saúde (no máximo, um raladinho no joelho). Especialistas defendem que crianças 'corram riscos' para serem saudáveis “Assim você vai cair!”; “Não corra!”, “Devagar!”. Quando você diz essas frases para o seu filho, tem a intenção de protegê-lo, certo? O problema, segundo especialistas, é que esse cuidado excessivo está acabando com as brincadeiras “de aventura”, que envolvem algum tipo de risco ou imprevisibilidade — como subir em árvores, apostar corrida ou fazer “lutinha”. Resultado: as crianças crescem menos confiantes, não desenvolvem a capacidade de detectar os reais perigos do dia a dia e tornam-se adultos mais ansiosos e sedentários. "Devemos dar toda a segurança necessária, mas não toda a segurança possível”, diz ao g1 Mariana Brussoni, professora da Universidade da Colúmbia Britânica e um dos maiores nomes em pesquisas sobre a “risky play” (“brincadeira arriscada”). Exemplo: garanta que a criança esteja de capacete, mas não impeça que ela pedale bem rápido no parque. ???? A preocupação deve vir desde a primeira infância (0 a 6 anos), etapa fundamental do desenvolvimento mental e emocional da criança. Hora de testar! Abaixo, faça um quiz e descubra: você é mais superprotetor ????‍♀️ ou aventureiro ???? ? O teste é baseado no conteúdo do projeto canadense “Outsideplay”, organizado por Brussoni, em parceria com o BC Children's Hospital. Em seguida, continue lendo a reportagem e saiba mais sobre: a tendência dos parquinhos mais emocionantes; os benefícios de dar à criança a chance de se desafiar; a postura ideal dos adultos, segundo os defensores da "brincadeira arriscada"; sugestões de atividades emocionantes; a importância de políticas públicas para favorecer as crianças. 'Meu filho vai correr perigo?' ???? Tanto no Brasil quanto no exterior, como no Canadá e na Alemanha (veja foto a seguir), há projetos que defendem a construção de parquinhos mais emocionantes, com escorregadores altos, troncos de árvore soltos no chão e interação com a natureza. Tudo para tirar as crianças das telas e oferecer a elas a oportunidade de testar seus limites e de experimentar algum perigo. Ludwig-Lesser-Park, em Berlim, tem escorregador gigante Divulgação/Berliner Brincando só dentro de casa, em ambientes totalmente controlados, elas não são desafiadas, não ganham autoconfiança nem aprendem a se proteger de acidentes. Parece estranho? Calma, ninguém quer ver seu filho seriamente machucado: “É o chamado ‘risco benéfico’, que tem consequências consideradas aceitáveis, como, por exemplo, descer um barranco correndo ou mexer em um galho pontudo — o máximo que vai acontecer é tropeçar ou se pinicar. São riscos que trazem benefícios ao desenvolvimento infantil." “É muito diferente de colocar alguém que não sabe nadar ao lado de uma piscina. Isso deve ser evitado!”, diz Henriques. ???? Quais os benefícios de permitir que as crianças corram esses riscos? Brinquedo em parque de Berlim, na Alemanha, incentiva crianças a escalarem cordas Divulgação/Berliner A pesquisadora Brussoni cita quais são os benefícios de dar oportunidade à criança de se arriscar e decidir, ela mesma, até que altura vai escalar uma árvore, por exemplo: desenvolver autoconfiança e resiliência ao se desafiar; ser mais criativa, já que poderá inventar brincadeiras; saber administrar os riscos - e, inclusive, ficar menos sujeita a acidentes no futuro; ser menos sedentária e mais ativa; ter uma saúde mental melhor e reduzir a ansiedade; aprimorar a coordenação motora. ???? Marina Fragata, diretora de conhecimento aplicado na Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, reforça a importância do contato com a natureza. “Em ambientes abertos, a criança tem condições de colocar seu corpo em movimento com maior intensidade e lidar com formas irregulares, caminhar em terrenos desnivelados e brincar com elementos naturais”, afirma. “O processo de desenvolvimento é sequenciado. Ela vai adquirindo essas habilidades [motoras] e formando base para dar um passo em direção a habilidades mais sofisticadas.” ???? Anderson Nitsche, neurologista do Hospital Pequeno Príncipe (PR), esclarece que “o cérebro, de modo geral, aprende melhor quando a pessoa, especialmente na infância, recebe estímulos variados — no tato, no cheiro e nos sons da natureza ou de uma boa música”. “O ‘brincar’ [nessas condições] melhora a memória e a flexibilidade cognitiva. Quando ela tira os olhos das telas, descobre o mundo ao seu redor e sorri”, diz. ????‍????‍???? O que os adultos devem fazer? Qualquer risco é bem-vindo? Criança brinca com elementos soltos na natureza Instituto Alana Brussoni diz que, a partir do fim da década de 1980: os pais passaram a ser mais superprotetores; as famílias com

TESTE: você é um adulto superprotetor? Crianças precisam correr mais riscos para serem saudáveis, dizem especialistas

Com uso de telas mais intenso e superproteção dos pais, crianças estão deixando de viver aventuras — como correr em espaço aberto, escalar ou mexer com pedras e galhos. Elas devem ser apresentadas a brincadeiras de 'risco benéfico', quando são expostas ao imprevisível e à emoção, sem perigo à saúde (no máximo, um raladinho no joelho). Especialistas defendem que crianças 'corram riscos' para serem saudáveis “Assim você vai cair!”; “Não corra!”, “Devagar!”. Quando você diz essas frases para o seu filho, tem a intenção de protegê-lo, certo? O problema, segundo especialistas, é que esse cuidado excessivo está acabando com as brincadeiras “de aventura”, que envolvem algum tipo de risco ou imprevisibilidade — como subir em árvores, apostar corrida ou fazer “lutinha”. Resultado: as crianças crescem menos confiantes, não desenvolvem a capacidade de detectar os reais perigos do dia a dia e tornam-se adultos mais ansiosos e sedentários. "Devemos dar toda a segurança necessária, mas não toda a segurança possível”, diz ao g1 Mariana Brussoni, professora da Universidade da Colúmbia Britânica e um dos maiores nomes em pesquisas sobre a “risky play” (“brincadeira arriscada”). Exemplo: garanta que a criança esteja de capacete, mas não impeça que ela pedale bem rápido no parque. ???? A preocupação deve vir desde a primeira infância (0 a 6 anos), etapa fundamental do desenvolvimento mental e emocional da criança. Hora de testar! Abaixo, faça um quiz e descubra: você é mais superprotetor ????‍♀️ ou aventureiro ???? ? O teste é baseado no conteúdo do projeto canadense “Outsideplay”, organizado por Brussoni, em parceria com o BC Children's Hospital. Em seguida, continue lendo a reportagem e saiba mais sobre: a tendência dos parquinhos mais emocionantes; os benefícios de dar à criança a chance de se desafiar; a postura ideal dos adultos, segundo os defensores da "brincadeira arriscada"; sugestões de atividades emocionantes; a importância de políticas públicas para favorecer as crianças. 'Meu filho vai correr perigo?' ???? Tanto no Brasil quanto no exterior, como no Canadá e na Alemanha (veja foto a seguir), há projetos que defendem a construção de parquinhos mais emocionantes, com escorregadores altos, troncos de árvore soltos no chão e interação com a natureza. Tudo para tirar as crianças das telas e oferecer a elas a oportunidade de testar seus limites e de experimentar algum perigo. Ludwig-Lesser-Park, em Berlim, tem escorregador gigante Divulgação/Berliner Brincando só dentro de casa, em ambientes totalmente controlados, elas não são desafiadas, não ganham autoconfiança nem aprendem a se proteger de acidentes. Parece estranho? Calma, ninguém quer ver seu filho seriamente machucado: “É o chamado ‘risco benéfico’, que tem consequências consideradas aceitáveis, como, por exemplo, descer um barranco correndo ou mexer em um galho pontudo — o máximo que vai acontecer é tropeçar ou se pinicar. São riscos que trazem benefícios ao desenvolvimento infantil." “É muito diferente de colocar alguém que não sabe nadar ao lado de uma piscina. Isso deve ser evitado!”, diz Henriques. ???? Quais os benefícios de permitir que as crianças corram esses riscos? Brinquedo em parque de Berlim, na Alemanha, incentiva crianças a escalarem cordas Divulgação/Berliner A pesquisadora Brussoni cita quais são os benefícios de dar oportunidade à criança de se arriscar e decidir, ela mesma, até que altura vai escalar uma árvore, por exemplo: desenvolver autoconfiança e resiliência ao se desafiar; ser mais criativa, já que poderá inventar brincadeiras; saber administrar os riscos - e, inclusive, ficar menos sujeita a acidentes no futuro; ser menos sedentária e mais ativa; ter uma saúde mental melhor e reduzir a ansiedade; aprimorar a coordenação motora. ???? Marina Fragata, diretora de conhecimento aplicado na Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, reforça a importância do contato com a natureza. “Em ambientes abertos, a criança tem condições de colocar seu corpo em movimento com maior intensidade e lidar com formas irregulares, caminhar em terrenos desnivelados e brincar com elementos naturais”, afirma. “O processo de desenvolvimento é sequenciado. Ela vai adquirindo essas habilidades [motoras] e formando base para dar um passo em direção a habilidades mais sofisticadas.” ???? Anderson Nitsche, neurologista do Hospital Pequeno Príncipe (PR), esclarece que “o cérebro, de modo geral, aprende melhor quando a pessoa, especialmente na infância, recebe estímulos variados — no tato, no cheiro e nos sons da natureza ou de uma boa música”. “O ‘brincar’ [nessas condições] melhora a memória e a flexibilidade cognitiva. Quando ela tira os olhos das telas, descobre o mundo ao seu redor e sorri”, diz. ????‍????‍???? O que os adultos devem fazer? Qualquer risco é bem-vindo? Criança brinca com elementos soltos na natureza Instituto Alana Brussoni diz que, a partir do fim da década de 1980: os pais passaram a ser mais superprotetores; as famílias começaram a valorizar que o tempo das crianças fosse dedicado a tarefas acadêmicas, como se a brincadeira não tivesse uma função essencial no desenvolvimento; os celulares e tablets tomaram conta do lazer na infância (principalmente após os anos 2000). Qual é o melhor jeito de se portar, então? A pesquisadora diz que a questão não é escolher “os perigos certos”, e sim oferecer a oportunidade de as crianças escolherem quando estarão prontas para aumentar a “emoção” da brincadeira. Quando elas têm a chance de decidir se vão subir na árvore até aquele galho mais alto, exercitam a capacidade de avaliar o que é seguro e o que não é. Que tal algumas dicas para que a criança se aventure mais? Leve seu filho para brincar em espaços com lama, pedras ou árvores para escalar. “Essas partes soltas na natureza podem ser usadas da maneira que as crianças quiserem, como a imaginação delas mandar. Espaços arborizados, com mato, são ótimos”, diz a pesquisadora. Ofereça objetos que estimulem a criatividade, como cordas, baldes, tábuas e caixotes. Sugira atividades em níveis diferentes de altura (como escalada), corridas com velocidade, pedaladas rápidas na bicicleta e manuseio de ferramentas. Se possível, ande a pé com a criança e explique quais cuidados devem ser tomados (atravessando a rua, por exemplo). Aos poucos, dê mais autonomia a ela. Conte até 17 antes de falar “cuidado!”. Seu filho vai descobrir até que ponto consegue encarar um desafio. ✏️ Só 1 a cada 3 escolas municipais de educação infantil tem parquinho Parque Tereza Maia, em Cotia (SP), tem microfloresta Divulgação/Instituto Alana Os esforços não dependem só dos familiares ou cuidadores das crianças. É necessário também que as políticas públicas contribuam para a criação desses espaços de “risco benéfico”. No Brasil, apenas 36% das escolas municipais de educação infantil têm parquinho, e 32,8% contam com área verde, aponta o Censo Escolar 2022, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). “É preciso construir ambientes seguros, em que se possa brincar na natureza. É difícil precisar se deslocar quilômetros até um espaço assim”, afirma Marina Fragata. “Uma comunidade com índices altos de violência, por exemplo, também não favorece [as brincadeiras ao ar-livre], porque os pais ficarão preocupados de ver os filhos saindo de casa. É um projeto que deve envolver a comunidade inteira.”